Venda Coberta de Opções: Uma Estratégia de Renda no Mercado de Ações

Neste artigo, vamos explorar a tática de investimento de venda coberta de opçoes de compra (calls) com exemplo real da carteira do Engenheiro Investidor.

Igor Barreto

11/18/20246 min read

Hands typing on a laptop keyboard with a screen displaying financial graphs and stock market data. Multiple charts and numbers are visible, indicating online trading or financial analysis.
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A venda coberta de opções é uma estratégia amplamente utilizada no mercado financeiro para gerar renda passiva a partir de ações que um investidor já possui. Essa abordagem combina a posse de ações com a venda de opções de compra (calls), permitindo ao investidor lucrar com os prêmios recebidos pelas opções vendidas. A seguir, exploraremos o conceito, o funcionamento, as vantagens e os riscos dessa estratégia.

O que é a Venda Coberta de Opções?

A venda coberta de opções (ou covered call, em inglês) envolve a venda de opções de compra lastreadas por ações que o investidor possui. Ao vender uma opção de compra, o investidor concede ao comprador o direito, mas não a obrigação, de adquirir suas ações a um preço pré-determinado (preço de exercício ou strike) dentro de um período específico.

Essa operação é chamada de "coberta" porque as ações em posse do investidor servem como garantia para a venda da opção. Isso reduz os riscos em comparação com uma venda de opções "descoberta", na qual o vendedor não possui os ativos subjacentes.

Como Funciona?
  1. Compra ou Posse das Ações: O investidor deve possuir as ações subjacentes. Por exemplo, imagine que ele tenha 100 ações da empresa XYZ, que estão sendo negociadas a R$50 cada.

  2. Venda de uma Opção de Compra: O investidor vende uma opção de compra com preço de exercício de, por exemplo, R$55, com vencimento em 30 dias. Pelo contrato, ele recebe um prêmio, digamos, de R$2 por ação (R$200 no total, considerando 100 ações).

  3. Cenários Possíveis no Vencimento:

    • Preço da Ação Fica Abaixo de R$55: A opção expira sem valor (não é exercida), e o investidor mantém as ações e o prêmio recebido.

    • Preço da Ação Sobe para Acima de R$55: A opção é exercida, e o investidor deve vender as ações ao preço de exercício (R$55). Ele obtém lucro com a valorização das ações até esse preço, além do prêmio recebido.

Vantagens da Venda Coberta
  1. Renda Extra: O prêmio recebido pela venda das opções é uma forma de renda adicional, independentemente do movimento das ações (desde que a opção não seja exercida).

  2. Redução de Risco: O prêmio funciona como uma espécie de "amortecedor", reduzindo as perdas em caso de queda no preço das ações.

  3. Flexibilidade: Essa estratégia pode ser ajustada mensalmente ou em qualquer intervalo de vencimento desejado, permitindo ao investidor adaptá-la às condições de mercado.

  4. Simples e Acessível: Não exige alavancagem, sendo uma estratégia relativamente segura para investidores iniciantes que já possuem ações.

Riscos e Limitações
  1. Limitação do Potencial de Alta: O maior risco da venda coberta é a limitação dos ganhos caso o preço da ação dispare. O investidor deve vender as ações pelo preço de exercício (strike), abrindo mão de uma valorização acima desse valor.

  2. Perda no Ativo Subjacente: Se o preço da ação cair significativamente, o prêmio recebido pode não ser suficiente para compensar a desvalorização.

  3. Liquidez e Taxas: Nem todas as ações possuem opções com boa liquidez, e as taxas de corretagem podem reduzir a rentabilidade.

  4. Compromisso de Venda: O investidor deve estar preparado para abrir mão de suas ações caso a opção seja exercida.

Para Quem É Indicada?

A venda coberta de opções é indicada para investidores que possuem ações em carteira e desejam:

  • Gerar Renda Passiva: Transformando ações paradas em uma fonte de renda recorrente.

  • Reduzir o Custo Médio: Utilizando os prêmios para compensar perdas ou reduzir o custo de aquisição das ações.

  • Manter uma Estratégia Conservadora: Com exposição controlada ao mercado de opções.

Exemplos Práticos e Reais de Venda Coberta

Para ilustrar a aplicação da venda coberta, vejamos um exemplo real da minha carteira:

1. Venda Coberta até o Vencimento.

Situação em 15 de maio de 2024.

O Investidor possui 200 ações da empresa Vale (VALE3), na data de referência cotadas a R$ 64,44 cada. Ele acredita que o preço da ação não subirá muito no próximo mês, mas deseja gerar renda adicional com sua posição.

O Investidor decide vender 2 contratos de opções de compra (cada contrato corresponde a 100 ações), com os seguintes detalhes:

  • Preço de exercício: R$ 66,99 (preço ao qual ele estará disposto a vender suas ações, se necessário).

  • Vencimento: 21 de junho de 2024, opção com 37 dias de vida.

  • Prêmio recebido: R$ 0,78 por ação (R$ 78,00 por contrato, ou R$ 156,00 no total para os 2 contratos).

Cenário em 21 de junho de 2024.

Preço da ação está abaixo de R$ 66,99, o fechamento foi R$ 60,83:

  • As opções expiram sem valor (não são exercidas), pois os compradores não têm interesse em comprar a R$ 66,99 (strike) quando a ação está no mercado por R$ 60,83.

  • O Investidor mantém suas 200 ações e embolsa os R$156,00 do prêmio recebido, que representam uma rentabilidade adicional de 1,21% sobre o valor de suas ações no dia da compra em 37 dias.

  • Apesar do prêmio recebido, a ação sofreu uma desvalorização de R$ 3,61. Nesse caso, como o Investidor já possuía as ações, o prêmio serviu apenas para rentabilizar essa posição, funcionando como um dividendo sintético de R$ 0,78. Como as ações permanecem na carteira, o EI tem a possibilidade de realizar uma nova venda coberta com os mesmos ativos.

  • A estratégia de venda coberta até o vencimento é pouco comum na carteira do Investidor. O mais usual e rentável é desmontar a operação ao atingir um lucro pré-determinado, geralmente entre 70% e 80% da meta. Ao alcançar esses valores, a operação é encerrada.

2. Venda Coberta com Rolagem.

O investidor possui 700 ações da empresa Itaú (ITUB4) e, em abril (série E), inicia a estratégia de lançamento coberto de opções de compra (calls) sobre o ativo. A tabela abaixo apresenta todas as rolagens realizadas, evidenciando os valores obtidos em cada operação, com o investidor constantemente retirando dinheiro do mercado.

As rolagens das séries E, F e G foram realizadas com a recompra das calls por valores inferiores aos de lançamento, gerando um lucro direto de R$ 462,00. A partir de junho, no entanto, o ativo começou a se valorizar, tornando as opções de compra progressivamente mais caras. Como resultado, as recompras passaram a ocorrer com custos mais elevados. Ainda assim, o lançamento de cada nova série sempre cobriu o valor da série próxima ao vencimento.

Por exemplo, a série H foi lançada por R$ 0,50 e recomprada por R$ 0,98, resultando em um "prejuízo contábil". Contudo, a série I, lançada por R$ 1,14, gerou um lucro de R$ 0,16. Mais adiante, a série I também sofreu um "prejuízo contábil", sendo lançada por R$ 1,14 e recomprada por R$ 2,63. Mesmo assim, a rolagem foi mantida, e a série J, lançada por R$ 2,82, gerou um lucro de R$ 0,19.

Ao longo desse processo, as rolagens continuaram retirando dinheiro do mercado. As séries J, K e L retornaram ao lucro direto, e, na data deste artigo, a série A de 2025 é a que está ativa, atualmente cotada a R$ 0,51.

Concluindo, lancei um total de R$ 7.021,00 (valor recebido) e recomprei R$ 5.691,00, resultando em um lucro total de R$ 1.330,00.

Conclusão

A venda coberta de opções é uma estratégia interessante para investidores que buscam equilíbrio entre rentabilidade e risco. No entanto, como qualquer operação no mercado financeiro, ela exige planejamento, conhecimento e uma análise cuidadosa das condições do mercado e do ativo subjacente.

Para iniciantes, é recomendável começar com pequenas operações e buscar orientação de especialistas ou cursos especializados antes de avançar em operações mais complexas. Afinal, compreender o comportamento das opções e das ações subjacentes é fundamental para o sucesso nessa estratégia.